PIRAPORA IN CENA

A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932
Os Ideais
A Revolução de 1930 fora feita, entre outros motivos, para moralizar os costumes políticos. Uma vez vitoriosa, o poder foi entregue a Getúlio Vargas que, até 1932, ainda governava sem uma constituição. Contra tal situação se rebelou o estado de São Paulo, dando início à Revolução Constitucionalista de 1932. Em apoio a esse movimento nascido em São Paulo, as lideranças piraporenses se empolgaram e dela participaram ativamente. O governo de Minas era declaradamente favorável ao governo federal, isto é, contrário à Revolução dos paulistas. Manifestaram-se a favor do movimento somente a zona da Mata e o município de Pirapora, que seria o ponto-chave dos acontecimentos no norte do estado, difundindo a rebelião que se formara. Liderado, na região, pelo capitão Otávio Monteiro Machado, formou-se um grupo de ativistas, constituído de representativas pessoas do município.
O Plano
Convictos de que encontrariam apoio de muitas comunas mineiras, planejaram os revoltosos piraporenses tomar todas as cidades ao longo da estrada de ferro até Belo Horizonte e unir-se às forças revolucionárias das outras cidades de Minas. Em Belo Horizonte, tomariam de assalto o palácio da Liberdade para depor o presidente Olegário Maciel. Afastado Olegário, iriam colocar a força pública de Minas ao lado das forças paulistas para exigir nova constituição. Queriam, se necessário, depor o Presidente da República Getúlio Vargas.
A Ação
O sentimento cívico se exaltou nas praças públicas e os revolucionários se prepararam e se armaram para a luta em defesa de uma constituição para o Brasil.
No arquivo particular de José Álvares da Silva, há o original de uma listagem feita por Arnaldo Gonzaga sobre a distribuição do armamento do pessoal. Constam da lista: Arnaldo Gonzaga: mosquetão nº 132; Oswaldo Nascimento: fuzil nº 9.929; Vicente Jardim: Winchester nº 976.179; Jeferson Gitirana: fuzil nº 7.056; Geraldo Barbosa: Winchester nº 451.170; Abílio Ferreira: Winchester nº 2.914; José Francisco Borges: Winchester nº 643.248; José Antunes de Macedo: Winchester nº 787.787; José Maciel de Oliveira: fuzil nº 2.216; José dos Santos: Winchester nº 671.141; Pedro Jordani: Winches-ter nº 60.878; Feliciano Lima: Winchester nº 316.736; José Menezes: Winchester nº 618.776; João José Filho: Winchester nº 618.777; João Lopes: Winchester nº 392.159; Oswaldo de Souza: Winchester nº 420.198; Herculano Mourão: fuzil nº 5.152 com 50 balas; João Ferreira Campos (ilegível) 709.765; José Gregório: (ilegível): fuzil; José Pereira: Winchester nº 13.08; Damas-ceno (sic). De início, os revoltosos se apoderaram da estação da Central do Brasil e foram ocupando, ao longo dos trilhos da ferrovia, as estações vizinhas, contando com o apoio de muitas delas. Entretanto, os participantes da zona da Mata, que deveriam juntar-se aos contingentes que partiram de Pirapora, fracassaram inteiramente em seu intento, sendo nulas as suas atuações. Apenas Pirapora, cumpriu o compromisso cívico assumido.
Em São Paulo se aguardava a repercussão do movi-mento em Minas e os jornais e emissoras nacionais relatavam, amiúde, os acontecimentos.
A Reação
O governo de Minas adotou, então, severas medidas de repressão. Forças governamentais, comandadas na região pelo coronel Quintino Vargas, se dirigiram ao nosso município, com a missão de debelar a rebelião. Tentaram os revolucionários uma última oportunidade: arrancar pequenos trechos dos trilhos da ferrovia, com o intuito de impedir a vinda da composição condutora das forças do governo. Foram inúteis tais esforços. No dia 9 de setembro, a cidade foi acordada em sobressalto com a grave notícia: as forças governistas chegaram, sem que fossem percebidas, abandonando a composição ferroviária em local distante.
As Prisões
Fortemente armadas, as tropas do governo, sob o comando do tenente Neactor Oliveira, se dirigiram em veículos ao centro da cidade e, de surpresa, efetuaram a prisão, em suas próprias residências, de todos os implicados no movimento, com exceção dos poucos que se refugiaram nas imediações. Foi um acontecimento que abalou e conturbou toda a vida da cidade, que se via privada de muitos de seus elementos mais representativos. Efetuadas as prisões,
foi aberto inquérito policial-militar, conduzido pelo delegado especializado Edgar Franzen de Lima. Todos os prisioneiros foram transportados em composição da Central do Brasil até o porto, onde se achava ancorado o vapor “Engenheiro Halfeld”, a bordo do qual permaneceram detidos. Toda Pirapora se enlutou com o ocorrido. Sua população ficou consternada e apreensiva quanto ao destino que teriam os presos. Mães, esposas, filhos, amigos, todos sofriam com a separação que se impunha. Transcorrida uma semana, os presos políticos foram conduzidos, por via férrea, para Belo Horizonte, onde ficaram detidos por um dia na casa de detenção. De Belo Horizonte foram transportados para o Rio de Janeiro, onde foram finalmente recolhidos à casa de correção da rua Frei Caneca. Arnaldo Gonzaga, que havia assumido a liderança dos revoltosos de Pirapora, chegou a ser embarcado no navio “Pedro I” para ser exilado para Portugal, tendo a ordem sido revogada.
A Volta
Passaram-se quase dois meses, quando, então, Pirapora começou a receber de volta, pouco a pouco, os seus filhos, depois de um árduo período de espera angustiosa de todo o povo. A alegria voltou a muitos lares da comunidade. Muitas comemorações foram feitas. Não houve-ra, felizmente, derramamento de sangue. O pároco, Frei Hilário, mandou imprimir um santinho, em cujo verso se lê:
“Lembrança da Comunhão Geral das creanças, em cumprimento duma promessa feita à Nossa Senhora da Conceição para o regresso feliz dos 25 Piraporenses. Pirapora, 11 de dezembro de 1932”.
Com o regresso dos revolucionários, estava escrita esta página viva e plena de civismo e devotamento às causas públicas, de que foram autores os seguintes cidadãos: Adelino Afonso Baeta Neves, Alcides de Salles Barbosa, Álvaro Teixeira Machado, Antônio Barbosa de Oliveira, Antônio Menezes, Antônio Pedro da Silva, Arnaldo Gonzaga, Décio Alves Ferreira Diniz, Euclydes Gonçalves de Mendonça (Dr. Duque), Feliciano Ferreira Lima, Francisco Bandeira da Mota, Geraldo Barbosa Gonçalves, Herculano Cintra Mourão, Jefferson Gitirana, João Carneiro de Mendonça, José Álvares da Silva, José Fernandes Braga, José Maciel de Oliveira, José Pereira da Cruz, Luiz Burle, Nestor Malard, Oswaldo Nas-cimento (Vadote), Otávio Monteiro Machado, Raymundo Nascimento e Vicente Gomes Jardim, além de Nuno de Oliveira e Silva, capitão dos portos, que foi exilado para Portugal, sendo o único que não retornou (rever-tido ao serviço da Marinha em 1946, atingiu o posto de contra-almirante).