PIRAPORA IN CENA

A REVOLUÇÃO DE 1930
O Tenentismo
A partir de 1922, ocorreram no Brasil algumas revoltas tendentes a desestabilizar o sistema de poder, então dominado pelas oligarquias agrárias de Minas Gerais e de São Paulo. Tais aspirações sensibilizaram os tenentes do Exército, daí a denominação de “tenentismo” dada a tais movimentos armados. Diga-se de passagem, num deste levantes, revoltosos paulistas, chefiados pelo general Isidoro Dias Lopes, andaram aqui pela região, fazendo com que tropas federais
passassem por Pirapora para dar-lhes combate.
A Eclosão
Para a sucessão presidencial de 1930, não houve acordo entre Minas Gerais e São Paulo, ou seja, não funcionou a política do “Café com Leite”, o que levou o presidente Washington Luiz a impor o nome de um paulista, Júlio Prestes de Albuquerque. Este derrotou Getúlio Vargas, que havia sido apoiado pela Aliança Liberal, formada pelos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Inconformados, mineiros, gaúchos e nordestinos, aliados aos tenentes, deram início, em 3 de outubro, à Revolução por alguns chamada de Liberal. O movimento se tornou vitorioso no dia 24 do mesmo mês, levando Getúlio Vargas ao poder.
Em Pirapora
Em nossa cidade, o comitê Liberal foi fundado em 27 de janeiro de 1930, congregando lideranças das duas facções aqui existentes. Houve comícios, passeatas, bandeiras e muito Hino Nacional. No dia em que aqui chegou a notícia da vitória, houve mais co-mícios, mais passeatas, mais bandeiras e mais Hino Nacional.
Consequências
Como consequência direta da Revolução de 1930, Viana do Castelo e Mello Viana foram dois grandes derrotados e ambos se exilaram. O primeiro abandonou a
vida pública e o segundo ficou no ostracismo. Em Pirapora não ocorreram maiores alterações na vida política. Permaneceu mais que sólida a posição da
facção nascimentista. A maioria desse grupo, a começar pelo chefe do executivo, Arthur Nascimento, havia apoiado a Aliança Liberal e defendido de público as
candidaturas de Getúlio Vargas à Presidência da República e de Olegário Maciel ao governo do estado. Sob a égide da Revolução, veio a seguir uma safra de
prefeitos nomeados: Genaro Henriques (1931 e 1932), Raymundo Soares de Santana (1931 e 1932), Durval Ta-vares de Albuquerque (1932 a 1934), Álvaro Nascimento (1934 a 1936) e Carlos Matta Machado (1937). Em substituição à câmara municipal, foi nomeado um conselho consultivo, formado em 1932 por Raymundo Soares de Santana, Franklin Quinta e Silva, Raymundo Nascimento, Rodopiano Aranha e José Vicente da Silva.
O Quadro Político
Vitoriosa a Revolução de 1930, cresceu em Minas a chamada Legião de Outubro, nascida por inspiração de Francisco Campos e Gustavo Capanema. Passou depois a denominar-se Legião Liberal Mineira e teve seu núcleo em Pirapora fundado pelo prefeito Genaro Henriques. A esta agremiação pertencia o grupo situacionista local, ou seja, a facção ligada à família Nascimento. Os antigos e novos oposicionistas - José Álvares da Silva, Floriano Soares Diniz, Alcides de Salles Barbosa, Adelino Afonso Baeta Neves, Antônio Barbosa de Oliveira e Arnaldo Gonzaga - reestruturaram em 1931 o diretório municipal do Partido Republicano Mineiro, o velho PRM.
Uma Tentativa de Reconciliação
No primeiro semestre de 1932, alguns contatos foram feitos junto às lideranças locais, com vistas a agregar em uma única agremiação as duas correntes
políticas existentes na cidade. Uma vez alcançada a reconciliação, seria fundado, com as bênçãos do presi-dente do estado, Olegário Maciel, um núcleo local do
Partido Social Nacionalista (PSN). Foram feitas algumas reuniões na prefeitura. O grupo situacionista, então reunido na Legião Liberal Mineira, era representado por Arthur Nascimento, Franklin Quinta e Silva e Sancho Ribas. Do outro lado da mesa, a facção oposicionista era representada por três remanescentes do ramismo: José Álvares da Silva, Cícero Passos e Alcides de Salles Barbosa, pertencentes ao Partido Republicano Mineiro. A comunidade viu sepultada a esperança de uma reconciliação, quando Arthur Nascimento colocou sobre a mesa o nome de Raymundo Soares de Santana para ocupar a prefeitura, com o que não concordaram os oposicionistas. Em todo o caso, valeu a tentativa.
Raymundo Soares de Santana
Raymundo Soares de Santana nasceu em Curvelo no dia 25 de março de 1886. Chegou a Pirapora em 1914 para instalar a Coletoria Federal e assumir a função de coletor federal, cargo no qual se aposentou em 1956. Participou ativamente da vida político-administrativa do município, sempre demonstrando sua capacidade de trabalho, de organização e de liderança. Veio a exercer o cargo de prefeito em 1931 e 1932. Identificou-se com a facção nascimentista, tornando-se um dos dirigentes do Partido Republicano Municipal de Pirapora (1920), da Legião Liberal Mineira (1931), e do Partido Progressista (1935). Ajudou também a fundar e presidiu o Partido Social Democrático (1945), o Independentes Clube e o Rotary Club. Foi inspetor de ensino e secretário da Delegacia do Trabalho Marítimo. Faleceu em Belo Horizonte em 22 de agosto de 1972. A pedido seu, foi sepultado em Pirapora.
O Partido Progressista
Com a morte do presidente Olegário Maciel em 1933, entraram em processo de esvaziamento as agremiações então existentes: Legião Liberal Mineira, Partido Social Nacionalista e Partido Republicano Mineiro. Com a ascensão de Benedito Valadares Ribeiro ao governo do estado, cresceu na bolsa eleitoral a cotação
do partido por ele concebido: o Partido Progressista (PP), logo formado em Pirapora por Alcides de Salles Barbosa, Joaquim Fernandes Ramos Júnior, José Neiva, José da Silva Maia e Paulo Martinez de Santana. Ao ser composta a sua direção, contou o PP, momentaneamente com cidadãos não comprometidos com as desavenças anteriores: Maximiliano de Campos Valadares (Presidente) e Francisco Assis Rocha (Secretário), além de Durval Tavares de Albuquerque (prefeito municipal desde 24 de novembro de 1932). Recebeu, porém, num determinado momento, a adesão em massa de membros da oposição, ou seja, aquele grupo de ex-seguidores do Coronel Ramos que ressuscitara o PRM em 1931. Assumindo a prefeitura em 1934, Álvaro Nascimento promoveu a reestruturação do PP, tomou-o para o seu grupo e afastou os oposicionistas. Ao abrigo dessa sigla, os nascimentistas partiriam para a eleição municipal de 1936. A oposição, tendo desistido do PRM e sido excluída do PP, iria engajar-se em uma nova agremiação, o Partido Municipal de Pirapora (PMP), fundado em 1936 por um novo participante da política local, Júlio Mourão Guimarães.
As Duas Extremas
Nossos direitistas se organizaram em 1935, numa seção da Ação Integralista Brasileira, defendendo o lema “Deus, Pátria e Família”. Já os nossos esquerdistas combatiam tanto o integra-lismo quanto a Revolução de 1930, por eles considerada uma quartelada pequeno-burguesa.