top of page

O VERDADEIRO COMEÇO

Curvelo: Mascarenhas x Viana
Ao despertar para o século XX, a cidade de Curvelo já se encontrava dividida entre duas famílias, o que era comum em muitas cidades. De um lado, os Mascarenhas, liderados por Pacífico Gonçalves da Silva Mascarenhas, que foi, aos poucos, transferindo o comando político ao cônego Francisco Xavier de Almeida Rolim e a Juvenal Gonzaga Pereira da Fonseca (casado com Antonina Diniz Mascarenhas). Pacífico Mascarenhas foi um dos signatários da constituição federal de 1891 e chegou a ser vice-presidente do Estado, no quatriênio 1902-1906, quando Minas Gerais era presidida por Francisco Sales.
Do outro lado, a família Viana, antes liderada pelo major Felicíssimo de Souza Viana, mais tarde substituído no comando por Augusto Viana do Castelo. Este, por seu turno, chegou a ocupar os cargos de líder da maioria na assembléia legislativa durante o governo Artur Bernardes, secretário da Agricultura no governo Antônio Carlos e ministro da Justiça quando da presidência de Washington Luiz. Em época bem anterior à proclamação da República, Pacífico e Felicíssimo haviam sido amigos, ambos monarquistas. Militavam no mesmo partido, o Liberal. Depois vieram as divergências, mas em 1917 um acordo local tentou amenizar as disputas entre as duas famílias. São Gonçalo de Pirapora era um distrito do município de Curvelo e seria natural esperar que a divisão existente na sede viesse um dia a se estender para o nosso lado. No início do século XX, era sólida a posição dos Mascarenhas em Pirapora, onde não havia maior es-paço para os Vianas.



Joaquim Lúcio Cardoso

Em julho de 1894, iniciou-se uma nova fase no desenvolvimento do arraial, com a chegada do coronel Joaquim Lúcio Cardoso. Cabia-lhe comandar os negócios da Companhia Cedro e Cachoeira, de propriedade da família Mascarenhas, de Curvelo. Iniciou o coronel Cardoso a construção de um grande depósito, a fim de possibilitar a compra de algodão em rama e a venda de tecidos. Estavam dados os passos iniciais para o pleno desenvolvimento do comércio atacadista e varejista. Novos caminhos se abriam ao São Gonçalo de Pirapora. Sua economia embrionária - restrita à venda de peixes a tropeiros e à exploração, em escala mínima, do garimpo e da agropecuária - passava à condição dinâmica de adquirir toda a produção regional de algodão e vender produtos manufaturados. Foi um grande salto. O impulso foi, por si só, um fator ponderável para que se obtivessem melhoramentos capazes de dar ao distrito meios adequados de comunicação e transporte. Tais necessidades imperativas foram supridas. Em 1902, era inaugurada a agência dos correios e, graças à interferência da Cedro e Cachoeira, foi no mesmo ano possibilitada a extensão da navegação do rio São Francisco até Pirapora, em cujo porto passaram a ancorar vapores como o “Saldanha Marinho” e o “Mata Machado”, os primeiros a aqui chegarem em viagem comercial. Joaquim Lúcio Cardoso nasceu em Valença (RJ) e chegou a Curvelo aos 18 anos de idade, engajado na construção do ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil. Morou em Pirapora até mudar-se para Viçosa (MG) no início da década de 1930. Veio a falecer no Rio de Janeiro em 8 de setembro de 1938. Teve filhos de grande projeção, como o deputado federal Adauto Lúcio Cardoso e os escritores Lúcio Cardoso e Maria Helena Cardoso. Sua presença frente aos negócios da companhia que representava deu substancial impulso às atividades do nascente distrito.



O Depósito

O depósito mandado construir pela Companhia Cedro e Cachoeira intensificou sobremaneira o comércio regional, principalmente a partir de 1902, e o fez de tal forma que passou a ser o que havia de mais importante no arraial. Acabou dando nome ao logradouro no qual foi situado - o largo do Depósito, hoje praça Coronel Ramos - fazendo esquina com a avenida Mascarenhas. O prédio é o que veio a ser loja da empresa Barreto Móveis. As operações comerciais se realizavam dentro do seguinte esquema: grandes quantidades de tecidos, dos mais variados tipos, chegavam, em tropas, das fábricas do Cedro e da Cachoeira. Eram estocados no Depósito e a seguir despachados em vapores e vendidos pelos via-jantes em todo o vale do São Francisco. Na volta, os vapores traziam o algodão comprado pelos viajantes. Esse algodão, por sua vez, depois de acumulado no Depósito, era transportado para as fábricas, aproveitando o retor-no das tropas que haviam trazido os tecidos. Outros depósitos haviam sido abertos pela Companhia em muitas outras cidades, como Rio de Janeiro, Ouro Preto, Curvelo, Montes Claros, Juiz de Fora. O de Pirapora, porém, foi o que durou mais tempo e, a partir de 1902, o que desenvolveu maiores transações, tendo seu volume de negócios chegado a absorver a produção de mais de uma das fábricas da empresa. Administrar o “Depósito de Pirapora”, ou seja, representar aqui os interesses da família Mascarenhas, era o máximo a que se poderia chegar na escala social do distrito.

O Depósito foi desativado em 1912, depois de haver sido a mola propulsora da criação da cidade.



Outros Moradores

A essa ocasião, já residiam no distrito de São Gonçalo de Pirapora: Sebastião Pereira Sobrinho, Manoel da Conceição Araújo, Predelina de Sales Barbosa (dona Piduca), Martinho José de Souza, Jorge Antônio Rabelo, Ricardo Conceição Araújo, Manoel Joaquim de Melo, Pascoal Lamoglia, Dionísio Francisco de Morais, João Cirino de Souza, Joaquim José de Souza Santana, Antônio Caldeira Brant, Augusto Lima de Azevedo.



Algumas Pessoas e muitas Tarefas

Eis que chegam a Pirapora algumas pessoas que iriam assumir as posições de relevância no seio da comunidade. Em 1898, chegou o padre Luiz Alberto. Veio de João Pinheiro para tornar-se o primeiro pároco da capela de São Sebastião. Foi Joaquim Lúcio Cardoso quem providenciou o seu transporte, em lombo de animal, e cuidou de acomodá-lo no arraial. Alugou para ele uma casa próxima à beira do rio, pertencente a Jorge Antônio Rabelo, pagando dez mil réis mensais. O padre Luiz Alberto exerceu santamente suas funções sacerdotais até 1906, quando veio a falecer. Em 1901, chegou a nova professora nomeada pelo estado, Josefina Rodrigues dos Santos, sobre a qual são feitas referências no capítulo 56 deste livro. Ainda em 1901, o coronel Targino Soares Diniz chegou para assumir provisoriamente a gerência do Depósito, em substituição ao coronel Joaquim Lúcio Cardoso. Essa troca de guarda foi traumática e provocou a primeira fissura no esquema, embora ainda insignificante. Em 1902, chegou José Joaquim Fernandes Ramos, o Coronel Ramos. Veio assumir em definitivo a gerência do Depósito. Fizeram parte de sua equipe, como via-jantes, Targino Soares Diniz, que chegara antes para receber o Depósito, e Arthur Nascimento, enquanto Lycurgo Lucena viera para exercer a função de contador. No desempenho de serviços gerais de administração atuavam Clóvis Soares Diniz, Floriano Soares Diniz, Clodoveu Soares de Matos e João Bernardino Ferreira. A partir de então, também se transferiram para Pirapora os três irmãos de Arthur Nascimento: os coronéis Antônio José do Nascimento, Raimundo Nonato do Nascimento e Álvaro Nascimento.

Copyright 2013 Pirapora in Cena. 

bottom of page